Publicado : sábado, 16 de agosto de 2014
07:18
Por Unknown
'Teremos casos importados, mas não locais', diz infectologista sobre ebola
Onze países do Oeste da África decidiram pela adoção de uma estratégia única de contenção do ebola. O vírus já matou mais de 1.000 pessoas desde o começo de 2014, sendo esse o pior surto da doença já observado na história. Na Libéria, Guiné e Serra Leoa mais de 700 pessoas já foram infectadas. A política de combate comum entre os países funcionará com a abertura de um centro sub-regional de controle na Guiné, para que seja coordenado o apoio técnico. Os países que integraram a reunião, além da Guiné, Serra Leoa e Libéria, foram Costa do Marfim, Gâmbia, Gana, Mali, Senegal, Guiné Bissau, República Democrática do Congo e Uganda.A preocupação com a doença é muito alta: mais de 150 especialistas já foram enviados aos locais onde ocorre a epidemia, na tentativa de conter o surto. Além disso, a Organização Mundial da Saúde teriam dito que a epidemia de ebola não deverá ser controlada em breve e que o surto poderá durar ainda muitos meses. Sobre a possibilidade de a epidemia se espalhar, a OMS teria dito ser impossível haver uma resposta clara sobre isso.
Apesar de o ebola não ser transmitido por vias aéreas, uma das principais preocupações no que diz respeito à transmissão da doença está no ar. A grande movimentação de pessoas através de vôos internacionais tem gerado especulações sobre a possibilidade de a doença atravessar a África e atingir outros lugares, como países da Europa, os Estados Unidos – ou até mesmo o Brasil.
Dados da Polícia Federal sobre a entrada de estrangeiros no Brasil mostram que durante o ano de 2014, 208 imigrantes da Guiné, da Libéria e de Serra Leoa passaram pelo país – 92 da Guiné, 52 da Libéria e 64 de Serra Leoa. Se forem contabilizados também os turistas que vieram dos outros oito países do Oeste da África que participaram da reunião deliberando uma ação comum de combate ao ebola, o número de entrada de imigrantes sobe para 2.747.
O Ministério da Saúde declarou em coletiva de imprensa que, apesar da entrada de turistas vindo desses países, não há risco de transmissão desta doença no Brasil no momento. O risco de disseminação seria alto somente nos países fronteiriços e moderado no restante do continente africano. No restante do mundo, a OMS classifica o risco como baixo. No último dia 8, o Governo Federal oficializou uma doação de R$ 1 milhão à OMS, para auxiliar e reforçar ações de combate ao ebola.
De acordo com o infectologista Alberto Chebabo, presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro (SIERJ), as expectativas da comunidade médica são as de que o ebola, como epidemia, deva continuar concentrado na África. “É muito pouco provável que a epidemia ocorra em outros continentes. Mesmo na África é provável que aconteçam casos em outros países, mas sem epidemias. Existe uma expectativa de que o vírus chegue a países mais desenvolvidos, como a África do Sul, mas sem que haja uma evolução tão grave. O restante do mundo também deverá ter casos esporádicos trazidos por pessoas que vêm da África, mas vão ser contidos. Teremos casos importados, mas não locais”, acredita.
O medo de uma epidemia virar uma pandemia
Desde o início do século XX, algumas doenças assustaram a população em escala global. Casos como o surto de febre amarela na Etiópia, entre 1960 e 1962, deixaram cerca de 30 mil pessoas mortas. Outras com casos expressivos mais recentes, como as gripes aviária e suína, derivadas dos vírus H5N1 e H1N1, também deixaram as autoridades de saúde internacionais alertas pela saída do vírus dos países onde foram identificados pela primeira vez.
As mortes ocasionadas pelo ebola trazem à memória casos históricos e trágicos, como a gripe espanhola, considerada por muitos o pior caso epidêmico da história. Durante a pandemia de 1918, só no Rio de Janeiro 14.348 mortes foram registradas, além de cerca de 2 mil em São Paulo. Apesar de serem números bastante alarmantes, o infectologista Alberto Chebabo garante que comparar casos como o da gripe espanhola com a ideia de uma pandemia atual, apontariam para uma capacidade de resposta muito maior. “Temos medicações específicas contra o vírus, produção rápida e em larga escala de vacinas. Todos os avanços da medicina fazem com que você consiga controlar mais rapidamente”, afirma.
Para Chebabo, a questão da vulnerabilidade à doenças contagiosas envolvem duas questões: a facilidade de deslocamento e a entrada do homem em ambiente que anteriormente eram inóspitos. “Hoje você consegue viajar muito mais rápido e o fluxo é muito maior do que era no século passado: isso facilitaria a transmissão de vírus de um lugar para outro. O que antes era localizado, hoje é global. Além disso, a destruição de florestas, a entrada em novos habitats faz com que se tenha contato com novos vírus, e o ebola foi um deles. Isso tem acontecido cada vez com mais frequência e como as pessoas não têm imunidade a esses vírus, acabam acontecendo epidemias”, explica o infectologista.
* do projeto de estágio do JB