''O impeachment não pode ser tratado como recurso eleitoral", disse Cunha
Num almoço com empresários realizado nesta segunda-feira, o presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) usou boa parte do seu discurso para criticar o governo de Dilma Rousseff e defender a independência do Legislativo.
Enquanto a plateia almoçava, Cunha alternava na sua fala críticas à política econômica atual com explicações detalhadas sobre o regimento da Casa que comanda desde fevereiro deste ano.
A cada comentário mais inflamado - como quando falou sobre a abertura da CPI do BNDES ou sobre seu arrependimento de ter votado a favor da aliança do PMDB com o PT - aplausos enchiam o recinto.
Cerca de 500 empresários participaram do encontro - organizado pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide). O número, segundo João Dória Jr., que preside a entidade, é maior do que o registrado nos debates com presidenciáveis realizados no ano passado.
O clima de “comício” só mudou quando as perguntas dos convidados se voltaram para o “projeto de Cunha para o Brasil”, uma alusão aos boatos de que o parlamentar se candidataria nas próximas eleições.
“Não sou candidato a nada”, disse o deputado. “Só sou candidato a cumprir o que prometi na minha campanha”.
Questionado sobre os pedidos de impeachment da presidente Dilma que chegaram à Câmara recentemente, ele afirmou que irá analisá-los de forma técnica. "Minha opinião é muito clara e não mudou uma vírgula. O impeachment não pode ser tratado como recurso eleitoral", disse.
Se do lado de dentro sobravam aplausos, do lado de fora do evento, ouviam-se vaias. “Cunha pode esperar. A sua hora vai chegar”, gritava um grupo de estudantes contrários a redução da maioridade penal e a atuação de Cunha.
Lava Jato
Em depoimento à Operação Lava Jato, o lobista Julio Camargo acusou Eduardo Cunha de receber 5 milhões de dólares de propina. O valor, segundo o delator, seria para garantir a manutenção de contratos com a Samsung, representada por Camargo, com a Petrobras.
Um dia depois do depoimento, Cunha negou as acusações e se posicionou diante de dezenas de jornalistas para anunciar o fim das relações com a presidente Dilma Rousseff. “Eu, a partir de hoje, me considero em rompimento pessoal com o governo”.
Na tarde desta segunda-feira, Cunha se recusou a responder qualquer pergunta que envolvesse a investigação. “Sigo as orientações do meu advogado”, disse aos jornalistas. “Ele deve achar que falo muito”.
Via Exame